A FORÇA DO PROPÓSITO Um sentido na vida
Alfredo
Cordella:
professor da Unisanta e presidente da ONG Rede Cidadania, entidade voltada para
o desenvolvimento humano. Matéria
de capa de uma recente edição da Revista Exame (nº 1184), com o título “A força
do propósito”, revela que ter “significado no próprio trabalho, algo cada vez
mais escasso em todo mundo, torna as pessoas mais saudáveis e produtivas. E é o
caminho para uma vida plena e mais feliz”. Estranho
mencionar estas evidências quando a taxa de desemprego anunciada, pelo IBGE, no
1º trimestre de 2019, atingiu a triste marca de 13,4 milhões de pessoas. Neste
cenário de retração ter um emprego, qualquer que seja, já está ótimo. A
crise sistêmica que vivemos e que afeta trabalhadores e empresas, em geral, não
é, portanto, apenas econômica. Segundo a matéria mencionada, em parte
significativa da população ocupada, que soma um contingente de quase 92 milhões
de brasileiros, há uma crise de significado. Temos
consciência de nossos sucessos e fracassos, somos capazes de avaliar de forma
crítica nossas existências assim, diante das perplexidades da vida, com certa
frequência, nos questionamos sobre o estilo de vida que vivemos e a extensão
dos impactos e sofrimentos que enfrentamos. Muitos
perderam motivos para acordar cedo todos os dias e se alinhar entusiasmados com
um trabalho efetivo ampliando os níveis de produtividade no país. Pesquisa da
consultoria Gallup revela que 85% dos empregados não se sentem engajados com os
propósitos das empresas em que trabalham. Formar líderes que motivem seus liderados parece ser uma alternativa importante. Estudo
realizado pela primeira vez no Brasil, envolvendo 100 países e funcionários de
1700 empresas, mostrou que a média de motivação em relação ao trabalho, entre
nós é de 4,5 (escala de zero a 10) enquanto a média global é de 5,5. Agravando
este quadro há fatores externos provocados pela crescente perda de confiança
nas instituições e há motivos intrínsecos causados pela falta de um sentido na
vida. É
claro que na abordagem deste assunto, tão presente em nossas vidas, não podia
faltar referências ao austríaco Viktor Frankl, médico judeu que, na 2ª Guerra
Mundial, perdeu de maneira súbita e cruel os pais e a esposa grávida para
intolerância dos nazistas. Levado para as atrocidades do campo de concentração
de Auschwitz, Frankl sobreviveu por buscar, apesar de tudo, um sentido na vida. Na
análise do economista indiano Subramanian Rangan, do Instituto Europeu de
Administração de Empresas (INSEAD – Fontainebleau) a busca de um sentido na vida
depende de um equilíbrio com o eu interior, das boas relações com o outro e da
evolução moral da sociedade. Empresas
privadas e as instituições públicas podem contribuir de maneira efetiva nesta
direção tendo seus líderes aprimorando ambientes de trabalho propício para estes aspectos. Em
entrevista publicada na mencionada Revista Exame destaca: “...para construir um século 21
melhor e mais justo precisamos mudar o paradigma”, tornando pessoas, empresas e
sociedade mais éticas em seus procedimentos e mais equilibrada em seus propósitos.
UMA RAZÃO DE SER ALÉM DOS NÚMEROS
[O CASO DA DANONE] UMA MEDIDA
INÉDITA PASSA A VALER PARA OS 100.000 FUNCIONÁRIOS da centenária
fabricante de alimentos Danone em 130 países neste ano. Cada um deles
receberá uma ação da companhia, listada na bolsa de Paris, e poderá
comprar outras em condições favoráveis. Tratasse de um passo simbólico
para ajudar a envolver todos os milhares de empregados mundo afora em
torno de uma espécie de mutirão. [O CASO DA ROCHE] Há cerca
de cinco anos os funcionários da farmacêutica Roche recebem a cada
semestre, num auditório da companhia em São Paulo, um grupo de
pacientes tratados ou em tratamento com os medicamentos produzidos por
eia mesma. Todos os
empregados, inclusive os 750 que trabalham em outras regiões do Brasil,
podem acompanhar a transmissão ao vivo. "A equipe vê como trabalha para
salvar vidas, e não apenas para gerar números", diz Patrick Eckert,
presidente da Roche no Brasil. Segundo ele, a medida ajuda a tomar tangível o propósito da companhia, lançado em 2013 pela matriz suíça: "Fazer agora o que os pacientes precisarão no futuro*. [O CASO DA UNILEVER] Nesse
esforço por conectar os funcionários ao propósito da empresa, a
fabricante de bens de consumo Unilever, com 161000 funcionários no
mundo, deu um passo além. Em 2017 a
companhia comandada pelo inglês Paul Polman passou a oferecer ern todos
os 190 países em que atua um programa no qual os participantes são
convidados a definir seu propósito pessoal. No Brasil,
2380 funcionários já receberam o treinamento. Ao longo de um dia, um
profissional de recursos humanos se reúne com um grupo de até quatro
pessoas. As conversas incluem experiências da infância, gostos pessoais
e, finalmente, uma reflexão sobre como suas ambições e aptidões
pessoais estão ligadas à vida profissional. [CONCLUSÃO] Segundo o levantamento da consultoria EY, entre as companhias envolvidas nessa jornada a maioria considera que o principal desafio é levar o propósito para o centro de suas estratégias.
"É o ponto em que a companhia está disposta a abrir mão de parte das
oportunidades de negócios para seguir à risca o próprio propósito",
afirma Betania Tanure, especialista em cultura corporativa e fundadora
da consultoria BTA.
FONTE: Revista Exame (Editora Abril0 edição 1184 01/maio/2019 ano 53
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